quarta-feira, 14 de outubro de 2009

A Doutrina Secreta

H. P. Blavatsky

Em 1888, foi publicada em Londres a grande obra de H. P. Blavatsky. Ela possui dois temas chave: a) Cosmogênese, b) Antropogênese, tendo como centro teórico as "Estâncias de Dzyan". Estas Estâncias foram traduzidas de um antigo manuscrito chamado "O Livro de Dzyan" e Blavatsky também usou alguns comentários escritos em chinês, tibetano e sânscrito. Estes textos de filosofia esotérica descrevem o surgimento do Universo e o aparecimento do homem, no planeta Terra.

O "Livro de Dzyan", segundo a escritora (Blavatsky não se considera a autora da obra A Doutrina Secreta), está intimamente relacionado com o Livro dos Preceitos de Ouro (fonte dos textos de A Voz do Silêncio) e com os "livros de Kiu-te", que são uma série de tratados do budismo esotérico conforme nos mostra David Reigle no livro The Books of Kiu-te or the Tibetan Buddhist Tantras (Editora Wizards). Em seu treinamento no Tibet, Blavatsky teve acesso a estes tratados, diretamente ligados à tradição espiritual mais antiga do Oriente e que foram preservados e comentados pelo budismo Mahayana.

O grande lama Tsong-Kha-pa (1357-1419), ao reformular o budismo Kadampa, reorganizando-o como a escola Gelugpa, fez uma série de compilações e comentários aos principais textos da mais genuína tradição espiritual. Blavatsky dava muita importância às obras de sua autoria, especialmente os "Lam Rim" - amplos tratados onde eram usadas as principais fontes, autores e escolas anteriores, com especial destaque ao pensamento de Nagarjuna, Asanga e Atisha. E foi em mosteiros Gelugpas que Blavatsky memorizou, estudou e recebeu instruções orais que mais tarde serviriam de base para comentários e esclarecimentos.

A palavra Dzyan, que é um termo tibetano, significa Meditação. Ele está vinculado à palavra sânscrita Dhyana, e tem relações com o termo Zen. Às vezes também é escrita "Dzyn", o que significa Sabedoria. E tem, também, uma identidade com a palavra Jnana (Sabedoria). Assim, A Doutrina Secreta é uma obra que tem no seu contexto e o espírito ¡nana e "meditativo". São idéias para serem meditadas, refletidas, investigadas, pensadas, pesquisadas.

Foi o resultado de um grande esforço e trabalho de quatro anos de Blavatsky procurando ofertar para os estudantes, especialmente os ocidentais, um instrumento para se buscar uma aproximação à sabedoria oriental e aos significados profundos da simbologia universal. É um desafio para a mente do estudante e possui significados cada vez mais profundos, na medida em que se tenta compreender o espírito dos slokas (sutras) e fazemos uma conexão entre as diferentes tradições filosóficas e simbólicas.

Em janeiro de 1884, saiu na revista, The Theosophist a notícia de que Blavatsky iria escrever uma outra grande obra, ampliando a anterior Isis sem Véu. Durante os anos de 1884 e 1885 ela dedicou-se a escrever. No início de 1886, escrevendo ao seu colega de estudos Alfred Sinnett, disse-lhe que "a cada manhã" surgia uma nova revelação e um novo cenário. A obra se ampliava em relação ao plano inicial e precisou reescrever várias vezes alguns dos seus capítulos.

Em setembro de 1886, remeteu da Europa (onde estava escrevendo) para a índia (Madras) o que seria o volume 1. Mas, em 1887 resolveu escrevê-lo novamente, com "acréscimos, retificações, cortes e substituições", pois o material se ampliava. Ela recebia ajuda, tanto dos seus amigos e colegas de estudos da filosofia esotérica, quanto auxílio de seus instrutores orientais.

Ainda em 1887, Blavatsky esteve bastante doente, à beira da morte, tendo recebido uma visita incomum: um dos seus Instrutores tibetanos esteve com ela e deu-lhe, segundo suas próprias palavras, a seguinte opção: "ou morrer, libertando-me (do corpo doente), ou continuar viva para terminar A Doutrina Secreta...". Tendo se recuperado, manteve seu contínuo esforço descrito como de imensa dedicação na tentativa de concluir esta obra, que ela considerava como a sua grande contribuição a todos os sinceros estudantes da tradição sabedoria.

Na primavera de 1887, foi residir em Londres, onde tinha um grupo de estudantes que a auxiliava na revisão dos textos e na confirmação das centenas de referências e citações que a obra fazia, pois a biblioteca e os livros pessoais de Blavatsky não passavam de 20 volumes, incluindo dicionários. Após esses perseverantes esforços, a Doutrina Secreta foi publicada, simultaneamente em Londres e Nova Iorque, no final do mês de outubro de 1888. As palavras finais de Blavatsky foram: "esta obra é dedicada a todos os verdadeiros teosofistas".

A obra mostra a unidade original de todas as religiões, dando bastante destaque ao simbolismo universal - fruto da linguagem comum existente em um passado remoto. A Doutrina Secreta foi a primeira grande tentativa, no Ocidente, de se publicar as chaves para o estudo das diferentes tradições, a partir de fragmentos da filosofia esotérica. Segundo suas palavras, o primeiro passo. consistia em "derrubar e arrancar pela raiz as árvores venenosas e letais da superstição, do preconceito e da ignorância presunçosa". O estudante da sabedoria esotérica deve perder inteiramente de vista as personalidades, crenças dogmáticas e as religiões particulares, e investigar o que existe de comum e essencial em todas as tradições.

No prefácio da primeira edição era dito: "esta obra não é a Doutrina Secreta em sua totalidade; contém apenas um número selecionado de fragmentos dos seus princípios fundamentais". Como dissemos anteriormente, o centro da obra são "As Estâncias de Dzyan", que ela comentou, ampliando as relações do simbolismo, fazendo correlações com as diferentes religiões, filosofias e idéias científicas da época. Tanto as "estâncias" quanto as ampliações não foram expostas como alguma revelação, mas sim encerram ensinamentos que se podem encontrar nos milhares de volumes que formam as escrituras das antigas religiões asiáticas e das primitivas religiões e filosofias herméticas ocidentais. O que Blavatsky procurou fazer foi uma brilhante síntese, mostrando que há uma unidade nessas antigas tradições. Ao mesmo tempo que indicava um horizonte bem mais amplo para as idéias relativas à Cosmologia e sobre a história da raça humana, desde uma imemorial idade até os tempos modernos.

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